A teoria das cordas e antigos ensinamentos



Em milênios antes de Cristo, como mostrou o Mahabharata, o príncipe Krishna já falava sobre uma realidade muito além da esfera acanhada do ego. Dissera à Arjuna, por exemplo, dentre outras coisas, que “para além dos sentidos, para além da mente, para além dos efeitos da dualidade habita o Eu”, assim “o que é irreal não existe, e o que é real nunca deixa de existir; os videntes da verdade compreendem a íntima natureza tanto disto quanto daquilo, a diferença entre o ser e o parecer”. [1]
De igual maneira, milênios antes de Jesus, agora na China, o filósofo Lao-Tsé diria em seus versos peculiares – “assim são as coisas físicas, que parecem ser o principal, mas o seu valor está no metafísico”. 
[2]
Bem depois, o príncipe Siddharta Gautama, Buda, na fronteira entre o Nepal e a Índia, novamente, ensinava sobre a vacuidade deste mundo e desta vida material, falando sobre uma outra realidade. Em seus últimos ensinamentos, diz ele “maravilhai-vos com o princípio da transitoriedade e dele aprendei a vacuidade da vida humana; não alimenteis vãos desejos de que as coisas mutáveis se tornem imutáveis”. 
[3]
Sócrates e seu discípulo Platão, aos seus turnos, chamaram esta outra realidade de mundo das idéias, que deveria ser o causal e para onde os indivíduos iriam depois da morte, liberação do pensamento
[4], fundamento do ser.
Jesus, ao seu modo, dizia que o Reino dEle não era deste mundo
[5]. Outrossim, falava - “em casa de meu Pai há muitas moradas” [6]. Apontando, nesta última ocasião, a verdade da existência de diversas dimensões. Isto porque se a casa de Deus é o universo, não só os planetas podem ser as moradas, mas, igualmente, o mundo espiritual e, dentro deste, os diversos estágios vibratórios.
Modernamente, ainda, um livro surgiu e conseguiu resumir, em seu bojo, estes e outros ensinamentos da humanidade. Através das pesquisas de Allan Kardec, codificar-se-ía “O Livro dos Espíritos”. Com ele, pois, aprende-se que “o mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo. O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir, ou não ter jamais existido, sem que por isso se alterasse a essência do mundo espírita”. 
[7] Além disso, “os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço”. [8] E, por estarem em toda parte, os seus céus e os seus infernos são exteriorizações dos seus estados íntimos que faz com que eles vibrem em faixas que se lhes afinem. Completa, ainda, o eminente francês que, no mundo dos espíritos, ou das idéias, “o meio em que se encontra (o espírito), o aspecto das coisas, as sensações que experimenta, as percepções que possui, variam ao infinito”, “lá também há – completa Kardec -, pois, várias moradas, embora não sejam nem circunscritas nem localizadas”. [9]

- O quê se pode deduzir com a Teoria das Cordas? 
[10]

Muito provavelmente, até pouco tempo atrás estes assuntos até aqui abordados seriam tidos como, no máximo, belos. Dificilmente, porém, como científicos, ou como tendo alguma probabilidade matemática de existir e de ser verdade.
Até há pouco tempo, porém. De lá para cá, muita coisa mudou.
Com a herança de Newton, tinha-se certeza que, no universo, só existiam três dimensões, e que o tempo era, indubitavelmente, absoluto. Este pensamento vigorou por largos anos. E não era por menos. Esta teoria satisfazia as observações que se podiam fazer até então. Além disso, ela era bem simples, fácil de se trabalhar e de se entender.
Na primeira metade do século XX, no entanto, a comunidade científica se viu mexida em seus fundamentos. Esta teoria não mais conseguia explicar as novas observações. Isto porque, se ela é muito boa para fenômenos que se desenrolam em velocidades pequenas, torna-se bastante incapaz de explicar aqueles que acontecem em velocidades iguais ou muito próximas à da luz. E, quando uma teoria começa a passar por tais situações, quando levam a infinitos, imprescindível se faz, sob o risco de se retardar o progresso da ciência, desenvolver-se uma mais abrangente.
Foi o que aconteceu. Logo, relativamente, surgiu a Teoria da Relatividade, primeiramente restrita, depois geral, concebida por Albert Einstein. Neste momento, então, descobriu-se que, além das três dimensões habituais, existe uma quarta – o espaço-tempo -pois que o tempo e o espaço não são absolutos, mas dependem do observador; além disso, não são tão independentes assim.
Necessário, ainda, era surgir uma outra que pudesse explicar, diferentemente da Relatividade, os episódios em escalas extremamente pequenas. Desenvolveu-se, assim, a Mecânica Quântica. Buscando-se, porém, até hoje, uma unificação entre elas, através da descoberta de uma outra teoria que englobe as duas.
Continuando, porém, neste avanço da ciência, em particular da física quântica, em 1984, apareceu a chamada Teoria das Cordas. Antes dela, pensava-se que uma partícula fundamental era puntiforme, ocupando apenas um ponto do espaço. Com ela, no entanto, estas partículas passaram a ser vistas como pequeninos pedaços de corda, que têm comprimento, mas nenhuma outra dimensão. Em um dado momento, então, elas ocupariam, agora, uma linha no espaço.
Com esta teoria arrojada, muitas mudanças viriam se impor nas concepções humanas. Dentre elas, entretanto, vale destacar a dedução de que existem, não apenas quatro dimensões, mas de dez a vinte e seis outras!
Ora, mas se elas existem, por que, de ordinário, não as percebemos? Responde o respeitável Dr. Stephen Hawking – “a sugestão é de que as outras dimensões não são como as dimensões a que estamos acostumados” -. 
[11]
Como seja, e por isso mesmo, comparando-se aqueles antigos ensinamentos com estes modernos modelos quânticos, pode-se indagar: o mundo das idéias de Sócrates/Platão, ou mundo espiritual, não estaria nestas outras dimensões propostas pela teoria das cordas; outrossim, os diferentes estados que o espírito pode sentir neste mundo espiritual, estas outras moradas, como propusera Allan Kardec, não estariam também nestas vinte e seis dimensões?


Leonardo Machado

(artigo originalmente publicado na Revista Internacional de Espiritismo)

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