Charles Fort / O Livro dos Danados
Charles Fort / O Livro dos Danados
Cético convicto e ferrenho crítico do positivismo, Fort dedicou sua vida a colecionar fatos insólitos que não poderiam ser explicados pela ciência do seu tempo. Além de conseguir provar que a ciência não era tão exata quanto diziam, foi o primeiro a escrever sobre o sobrenatural e precursor do realismo fantástico.
Nascido em 1874 em Albany, Nova York, Fort com apenas 18 anos começa a trabalhar em um jornal de NY e foge de casa, por culpa do seu pai tirano e autoritário, em sua alto bibliografia chamada “Many Parts” (sem tradução para o português) Fort acusa seu pai por esse sentimento que Fort tinha de ir contra dogmas e autoridades.
Aos 22 casa-se com Anna Filan, com quem viveria até sua morte e ajudaria na publicação e conservação de suas notas, apesar de uma vida inteira conjunta, o casal não deixaria nenhum filho.
Aos 23 anos, Fort teria escrito cerca 10 livros e 25,000 notas, mas em um acesso de loucura e depressão teria queimado todas elas, sempre que perguntado sobre estes acontecimentos, ele respondia simplesmente: “Não estavam boas o suficientes” ou “não saíram do jeito que eu queria”.
Desde seu começo nos jornais de NY, Fort tomava gosto pelas notícias sobre casos insólitos, a grande maioria sobre chuvas e quedas de materiais estranhos (o que mais tarde seria conhecido como Fafrotskies). Fort recolhia as informações que pesquisava na biblioteca que ficava perto de sua casa e fazia pequenas anotações e comentários sobre o fato, comentários esses com doses de ironia e sarcasmo.
Como ele mesmo disse no livro “Wild Talents” (sem tradução também):
“Sou um colecionador sobre assuntos diversos... tal como desvios na concentricidade da cratera lunar de Copérnico e a aparição súbita de homens ingleses roxos... o radiante fixo das chuvas de meteoros, e os relatos sobre crescimento de cabelo na cabeça de múmias carecas...”
Fort e Anna viveram por muitos anos na pobreza, ele em si não era muito sociável, se não fosse por Anna, que o levaria a todos os eventos sociais, e que frequentemente insistia para que vende-se seu material para revistas e jornais, em uma dessas entrevistas para vender seus materiais, Fort conheceria Theodore Dreiser, um dos poucos amigos em vida, que o incentivaria a escrever o grande sucesso dele ““O Livro dos Danados” ( sim, esse pelo menos tem tradução pra português, o nome original seria “The Book of Damned”).
Na introdução do livro, Fort explica o nome de “danados” aos fatos insólitos que procurava:
“Com a palavra danados, quero dizer os excluídos. Temos portanto uma enfiada de dados que a ciência excluiu. Batalhões de danados, capitaneados pelos diáfanos dados que exumei, põem-se em marcha. Ei-los alígeros... logo marcharão . Alguns são lívidos, outros flamejantes, outros ainda putrefatos. (…) O poder que afirmou a todas estas coisas que elas são danadas, foi a Ciência Dogmática.”
A sorte de Fort muda após os 42 anos, quando recebe uma valiosa herança, que o permite se dedicar completamente a escrita, Dreiser consegue convencer um editor a publicar “O Livro dos Danados” depois se muda com Anna para Londres, próximo ao museu britânico, começando a frequentar a biblioteca dele quase que diariamente.
Voltando há Nova York em 1929, conheceria Tiffany Thayer, um jovem novelista que em muito se interessou pelo trabalho de Fort, há ponto de dar os primeiros passos para fundar a sociedade Forteana. No livro “New Lands, Thayler tentou explicar o inexplicável Charles Fort:
“Ele ria a medida que escrevia, lia e pensava: ria do assunto, caia na gargalhada com a presunção de seus praticantes, (…), sorria por sua própria tolice de ter se metido em tal negócio, dava risada das criticas de seus livros, e teve acesso de riso à minha custa a ver que eu realmente estava organizando a sociedade forteana”.
Infelizmente a saúde de Fort foi piorando, a cegueira que tinha foi cada vez aumentando até que no dia 3 de maio de de 1932, Fort da entrada no hospital com suspeita de leucemia, morrendo horas após, depois de sua morte, Anna perdeu o interesse em viver e acabou morrendo sozinha 5 anos depois.
Em vida, Fort relatava grandes fenômenos de poltergeist em seus apartamentos tanto no Bronx como em Londres, após sua morte, Dreiser entrevista Anna sobre os respectivos fatos, e pergunta se por acaso o fenômenos continuavam, Anna diz por que por vezes escutava barulhos e vozes estranhos na noite, e diz: “Uma tarde (…) a tia dele veio a minha casa e me perturbou sobre o dinheiro. Disse que eu não tinha direito a ele. Eu fui para cama chorando, e a noite eu pensei ter visto ele sentado numa poltrona (…) Ele disse: “Hello Momma” e eu nunca fiquei tão feliz de ter visto alguém na minha vida”.
Charles Fort foi muito ridicularizado em sua vida, as vezes até por ele mesmo, mas não se pode negar a sua contribuição para a literatura do fantástico, sendo o primeiro a realmente escrever sobre poltergeists, chuvas anômalas e diversos fatos insólitos, apesar de aceitar qualquer descrição como verdade, deu o primeiro passo para se discutir o indiscutível e provar que nem sempre a ciência tem explicação para tudo.
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