Estamos Preparados ?

A vastidão do universo sempre cativou minha atenção. Asestrelas que aparentemente próximas possuíam quilômetros de distância de espaçoentre elas, demonstravam que não conhecíamos nem metade do pátio de nosso lar.Apesar de não conhecermos ainda várias nuances e detalhes incríveis do interiorde nosso próprio planeta, nossa mente permanecia voltada a explorar odesconhecido. Uma pergunta que talvez nascesse junto conosco sempre permeavanossa imaginação, o que nos levava quase inconscientemente a nos perguntar:estaríamos sós no universo?

Tentamos várias formas de comunicação, esperando pacientemente por umaresposta. Aparelhos e pequenas naves foram construídos, levando nossa marca aospontos mais distantes do cosmos. Mas nunca obtivemos algum sinal de que haviamrecebido a mensagem. Será que possivelmente assimilaram nossa tecnologia?

Naquela manhã, após muitas manhãs durante vários anos, a equipe de estudiososfoi pega de surpresa quando descobriram um estranho sinal vindo de uma formaçãocentenária de pedras denominada “Stonehenge”. Aquele nome não me era estranho etodos conheciam. A alegria tomou conta de todos. Finalmente alguém haviarespondido, mesmo que de uma forma incompreensível. O sinal realmente vinha defora.

Após um tempo considerável, a equipe decifrou de onde vinham aqueles sons etraçou um caminho imaginário através do calculo entre tempo de resposta,distorção das ondas e tecnologia utilizada. O sinal vinha de uma região noespaço conhecida por sua estrela Alfa Centauro.

Nós precisávamos averiguar mais de perto. Afinal, era o primeiro indício de quehavia vida inteligente nos “cantos” escondidos do universo e não podíamosperder esta chance de estabelecer contato. Com nossa tecnologia atual erapossível construir uma nave não tripulada e enviá-la até a fonte do sinal. Nãosabíamos se eles eram hostis ou não, por isso nossa equipe enviaria uma formade vida artificial, controlada por nossos sensores de sentidos. Não estaríamoslá fisicamente, mas poderíamos experimentar as sensações.

Eu era novo, mas já tinha ouvido boatos e histórias incríveis de que esta nãoera a primeira tentativa de estabelecer contato. Talvez eles já tivessem nosvisitado antes, mas nada estava provado. Não lembro bem o motivo, mas eu acabeisendo o escolhido.

(...)

Era uma noite muito bonita de céu estrelado e eu me encontrava sozinho no meiode uma extensa mata. Não sabia como havia parado ali, mas algo me impulsionavaa prosseguir. O vento tornou-se mais forte e as folhas batiam umas nas outras,produzindo um som estranho. Idéia estúpida estar num lugar daquele sozinho,tendo apenas a Lua como guia. Minha pele começou a se arrepiar. Olhei paratodos os lados, mas eles pareciam iguais. Eu estava perdido. As folhas batiamcada vez mais fortes; meu coração disparou, pois algo estava vindo em minhadireção.

Iniciei uma corrida desesperada para lugar nenhum enquanto notava que as folhasàs minhas costas se amassavam cada vez mais. Até que o vento começou a soprartão forte que não tive opção senão parar. Engoli em seco e esperei. Estavavindo. Que sensação era aquela? As folhas se amassaram ao meu redor e quando euestava pronto para atacar com todas as minhas forças o que quer que fosse, tudoparou. O vento simplesmente sumiu e as folhas pararam. Era uma oportunidade. Eusairia correndo como ninguém jamais havia feito.

Quando reuni forças para sair dali, uma forte luz me cegou. Não era a Lua.Olhei para o chão e percebi um círculo esbranquiçado, que imediatamente retesoumeus músculos. Não conseguia me mexer. Seria uma alucinação? Mas era tudo tãoreal...

Perdido em meus pensamentos e sem conseguir focar o olhar, entrei
em desespero. Foiquando notei que uma sombra se aproximou. Ele (ou ela) era muito diferente doque imaginávamos. Seria este o tão aguardado contato? Sua aparência eraestranha, talvez adaptada ao seu planeta natal. Mas consegui distinguir quepossuíam duas formas distintas. Conseguiam se locomover através de um par depequenas e finas protuberâncias que brotavam de seu tronco central. Havia duasformas semelhantes em cima, perto do que aparentava ser a unidade central deprocessamento, o qual possuía dois globos cristalinos chamativos. Podiam serconsiderados olhos. E que olhos! Eram muito expressivos! Aqueles olhos eu nãoesqueceria tão cedo!

Suas partes externas, que chamarei erroneamente de tentáculos (visto que nãoachei nada mais apropriado para descrevê-los) deixaram de ficar apenas àdistância e começaram a me tocar. Era uma estranha sensação indescritível. Noinicio foi um toque macio, mas depois foi apertando cada vez mais. Trouxeram umaparelho e quando percebi, estava cercado por eles. O que era aquilo?

Então senti uma fina agulha gelada atravessar minha pele. Eles estavam fazendoexperiências comigo! Tentei me desvencilhar, mas já era tarde. Estava preso aoestranho aparelho e inúmeros seres idênticos me carregaram para dentro de umveiculo que parecia uma caixa. Eles pareciam tensos. Um deles exalava umaestranha fumaça que se desfazia no ar. Outros possuíam um aparelho que cobriaseus expressivos olhos e parecia ser algo comum, pois quase todos usavam. Umdeles, aparentemente mais fino e frágil, me olhava atentamente. Pareciam estardiscutindo algo.

O veículo que me carregava fazia um som estridente e solavancos podiam sersentidos no caminho. Não sei se poderia ser chamado de nave. Enquanto isso,aqueles olhos me fitavam fixamente. Aqueles olhos eram assustadores! Elestinham que parar de fazer aquilo.

De repente senti um puxão. Havíamos parado. Fui carregado pelos estranhos seresaté uma obra arquitetônica que aparentava ser uma espécie de complexoextraterrestre. Tudo era muito branco e as luzes voltaram a me cegar.

Os “finos” continuavam a discutir com os maiores e dessa vez, apareceram outrosseres mais assustadores ainda. Estes não tinham a pele fina como eu haviavisto. Pareciam usar uma armadura de plástico. Então senti uma dorindescritível. Algo cortante perfurou minha pele. Acho que finalmente conseguiacompreender o que os finos discutiam com os maiores. Ouvi atentamente e traduzisua língua desconhecida:

“O que? Você está dizendo para estudarmos ele vivo? Está louca?”
“Pense! Podemos aprender de sua tecnologia e tudo o que sabem do universo,apenas perguntando!”
“Ah, e você fala a língua deles? Sem essa, o governo mandou resgatarmos essacoisa, seu veículo espacial e estudarmos eles!”
“Estudar ele morto? E se ele veio nos trazer uma mensagem especial?”
“Então que tivesse enviado um memorando antes! Tirem a doutora daqui!”

Eles iriam me estudar e fazer experiências com meu corpo ainda vivo! Debati-me,mas foi inútil. Definitivamente eles eram uma raça hostil e não estavampreparados para um contato amigável. Quando injetaram um estranho líquido emmeu corpo, comecei a lembrar de certas coisas e consegui enviar uma mensagemaos meus companheiros, estabelecendo um elo telepático com os outros e oscientistas que me monitoravam. Em seguida, minha força ativa deixou meu corpo eadormeci para sempre...

(...)

- Contato restabelecido. –
- Há um registro telepático vindo de Alfa Centauro. Deseja reproduzir amensagem? -
- Sim/Não. –
- Sim. -

“Prezados irmãos. Nossos antepassados já estiveram aqui. Nossa nave revestidapor mármores e pedras, que continha um pedaço de nossa biosfera e uma mensagem,foi abatida há muito tempo. Stonehenge está em posse dessas criaturas, mas elessequer sabem de sua real forma. Se receberem esta mensagem a tempo, não venham.Nem sequer respondam. Muitos de nossos antepassados já pereceram por aqui, pelasua busca inútil de vida inteligente neste canto do universo. Eles ainda nãoestão preparados para nos receber! São seres estranhos esses alienígenas! Eaqueles olhos... Ah! Aqueles olhos!”

Enviado gentilmente pelo autor Brian Oliveira Lancaster.

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