Uma experiência com Mescal
Este é o relato de uma experiência com Mescal, um cactus com propriedades de alteração da consciência nativo das Américas.
Na época anterior ao evento eu andava com a nítida impressão que alguma coisa se me estava escapando da memória, parecido quando a gente quer lembrar o nome de alguém e sente “estar na ponta da língua”, mas não vem à tona. Também sentia que era uma lembrança importante para o meu (assim considerado na época) desenvolvimento espiritual.
Algum tempo depois desta sensação ter se instalado recebi um telefonema de uma amiga que me disse encontrar-se na nossa cidade um xamã índio do Peru e que realizaria uma sessão de consumo de Mescal em sua casa. Convidou-me para participar e eu aceitei na hora porque vi que ali estava a forma de lembrar o que estava me agoniando tanto.
No dia combinado, em torno das 22 horas, estávamos, na casa de minha amiga, umas 5 ou 6 pessoas. No chão da sala alguns colchões e vários cobertores, o que estranhei porque estávamos na primavera e a temperatura andava bem amena.
O xamã nos deu para beber um copo de 300 ml de um líquido grosso, parecendo uma vitamina de frutas, de cor esverdeada e que quando bebido mostrou ser o sabor mais horrível que eu já tinha experimentado. Tive que tapar as narinas para poder beber tudo.
Disse-nos que cada um de nós deitasse num colchão e se tapasse com os cobertores.
Não sei quantos minutos depois comecei a sentir dor na cabeça e depois na barriga, mas foi passageiro. Imediatamente comecei a ver cores, cintilantes e belíssimas, e formas geométricas construídas de luzes coloridas que cintilavam. Espocavam como flashes.
Começou um mal estar físico: enjôo e ânsia de vômito. Levantei correndo e fui ao banheiro onde vomitei em jatos fortíssimos. A sensação era que eu vomitaria tudo que estivesse dentro de mim, órgãos incluídos.
Voltei ao meu colchão me sentindo bem melhor. Aí começou o frio (a razão dos cobertores) e tremor no corpo inteiro, mas mais fortes nas pernas. Sensação de tempo quase inexistente.
De repente sinto-me alegre e feliz e acho muita graça do tremor das minhas pernas que era absolutamente incontrolável e ao mesmo tempo rítmico. Por algum tempo estive segurando-as, mas depois desisti, o tremor era mais forte do que os meus braços suportavam.
Vejo a imagem de um índio pele-vermelha. É alto, tórax largo, cabelos compridos e soltos . Ele fala alto para os companheiros: sou forte, sou forte.
O xamã vem até mim e passa álcool no meu rosto e pescoço.
Transformo-me numa águia. Sinto-me feliz. Quero abrir minhas asas e voar, mas não consigo. Penso: ah, eu não sei voar.
Sinto alguém fazendo um carinho em meu rosto, sei que é o xamã, mas quem vejo me afagando é minha mãe índia e eu sou um bebê do sexo masculino. Sinto-me feliz e sorrio.
O xamã se afasta e me vejo novamente como um índio adulto (talvez o mesmo de antes, não sei) cavalgando um búfalo correndo muito. Sinto o vento no meu rosto e a maravilhosa sensação de poder sobre um animal tão forte. Sinto seus músculos entre minhas pernas.
Vejo um marinheiro a bordo de uma caravela com roupas muito antigas e um porto cheio de gente. Estou numa caravela e sou um pirata. Fico curiosa com a cena, mas antes de poder investigar mais me vejo como uma dama linda de peruca enorme e branca, cheia de jóias e o vestido é lindo. Identifico corte francesa na época de algum dos Luises. A imagem foge. Tento trazê-la de volta, mas ela foge novamente.
Surgem as cores de novo. Lindas e brilhantes.
Começo a passar mal, enjoada. Assim fico durante algum tempo. Vou ao banheiro e vomito novamente. Sinto-me um lixo!
Dá uma vontade louca de comer algo doce. Vejo frutas em cima da mesa da cozinha e pego uma laranja, mas não tenho faca para descascá-la. Peço ao xamã que a corte para mim. Como a laranja com intenso prazer (como nunca antes), mergulhando-a no açucareiro e lambuzando meus dedos e rosto. Acho isso o máximo, sinto-me como criança.
Sinto frio e resolvo deitar novamente. Tremo muito. Uma das companheiras começa a rir loucamente e a falar alto e isso me incomoda, mas ela ri tanto que me contagia e rio também.
Vejo flashes de várias cenas, mas nada nítido. Vejo cores também e a sensação é desagradável. O xamã vem e passa álcool no meu peito e barriga e aperta meu umbigo.
Vejo dinossauros, mas não me assustam, são benignos. Vejo umas formas estranhas no ar, é noite. Sensação de estar sendo atacada. De repente consigo identificar as formas: são pássaros pré-históricos.
Outras cenas confusas, corredores subterrâneos com paredes de pedra, meio escuros.
Agora vejo muita gente vestida de maneira que sei ser na Idade Média. Estou na rua e sei que estão levando Joana D’Arc para a fogueira e sinto que falhei com ela, que a sacaneei. Não me vejo, mas parece que sou homem. O sentimento é de muita tristeza e decepção comigo.
Vejo outras cenas misturadas, confusas, cortadas. Vejo uma mão feminina toda ensangüentada segurando o que parece ser um coração de criança. Não quero ver mais e a cena desaparece. É tudo muito rápido.
Ouço gemidos, abro os olhos e vejo o xamã fazendo massagem numa companheira. Fico olhando confusa porque ao mesmo tempo vejo outra cena que não está se passando ali e sim num tempo muito antigo que sei ser anterior à história registrada. Sensação de mal estar e muita angústia. Fico terrivelmente chocada e não quero ver mais. Sinto ânsia de vômito e vou ao banheiro. Quando chego à porta a ânsia passa e me apóio na porta com os braços. O xamã vem e me massageia alguns pontos do corpo. Estou tão revoltada que não quero a ajuda dele, mas não tenho forças para falar. Repentinamente, não sei qual ponto do corpo o xamã toca que me faz literalmente desmontar e vou ao chão e ali fico na posição em que caí sem ânimo para nada. Só o sentimento de nojo e revolta
Após algum tempo sinto frio e volto a deitar.
Outras imagens aparecem. Meu rosto, do lado direito está repuxado, a boca retorcida. Tenho consciência dessas contrações, mas não consigo fazer nada. Tremo muito.
Surge uma imagem de vários homens, cabelos muito curtos com roupas compridas, como túnicas de monges, a cor é cinza. Um deles sei que sou eu. Não gosto da cara dele, é meio gordo, olhos enganadores, careca. Sinto maldade nele.
A cena desaparece e começa uma alternância das várias cenas que vi antes. Tudo confuso e angustiante. Sinto que todo o lado direito do meu corpo tem algum problema como se estivesse preso. Tento identificar o que me incomoda, mas não consigo. Inclusive o lado direito treme mais, a boca continua repuxada e sinto que estou com os maxilares extremamente contraídos.
Assim adormeço.
O período de duração de todos esses eventos foi de aproximadamente 7 a 8 horas, pois já estava dia claro quando adormeci.
Bem, atingi o objetivo que me tinha proposto? Sim. O que eu estava tentando lembrar veio durante essa experiência, contudo me custou uma grave doença física e uns dois anos de intenso trabalho interno para aceitar o que me foi mostrado.
Não afirmo que o que vi foram vidas vividas por mim, mas o que quero deixar claro que o principal é o sentimento, como essas visões atuam no nosso emocional. Racionalmente foi fácil de aceitar devido ao meu preparo não só como psicóloga, mas também pelo fato de já ter feito terapia e também conhecer bastante esses outros lados nossos que a maioria das pessoas desconhece.
O meu lado racional aceitou, mas a aceitação por parte do meu lado emocional veio muito tempo depois já que a experiência foi realmente assustadora e pesada.
Quero deixar aqui minha advertência quanto ao uso dessas substâncias que alteram a consciência, pois requer pessoas muito bem centradas e de ego forte. Na década de 60 foram muitos os que piraram pelo uso do LSD e após minha experiência eu entendi o porquê.
Posteriormente fiz outras sessões de regressão, mas de forma assistida com um profissional e foi tudo bem diferente, não tendo me causado dano nenhum.
Sempre tive e tenho vontade de fazer regressão,mas sem esse cactus aí por favor...
ResponderExcluirDeus..que viagem louca.E 7,8 horas ,sentindo, vendo tudo isso.
Tô fora!Não sou tão forte pra isso,rsrs.
Sucesso ao seu blog Atena.
Ja´estou seguindo.
E também quero agradecer por comentar por lá nas minhas neuras, desabafos e afins,rsrs.
grande bjo.